A criação de bezerras é parte fundamental para obtenção de vacas leiteiras saudáveis e produtivas. Quando as bezerras são nutridas adequadamente, têm boa saúde e bem-estar, produzem mais leite em suas futuras lactações.
Há aumento na produção de leite de 450 a 1.400 kg na primeira lactação quando as bezerras consomem 50% a mais de dieta líquida na fase de aleitamento.
Entendendo a bezerra
A bezerra, ao nascer, não é um ruminante. Ao nascer a bezerra é um monogástrico, com estômago possuindo características diferentes do ruminante adulto e sendo incapaz de digerir alimentos sólidos.
Em condições normais de manejo, em 60 a 90 dias a bezerra desenvolve habilidade para sobreviver com alimentos volumosos e concentrados, pois o rúmen-retículo passam a apresentar atividade microbiana relevante, com desenvolvimento de papilas em suas paredes e capacidade de absorção de nutrientes pelas partes do rúmen-retículo.
Alimentação de bezerras leiteiras
Colostro
Seja no aleitamento natural ou artificial, é importante fornecer o colostro o mais rápido possível. Esta é a forma de propiciar imunidade aos recém-nascidos e garantir a sobrevivência na primeira semana de vida.
A forma mais eficiente é fazer com que a bezerra mame o colostro na vaca logo após o nascimento. Em caso de aleitamento artificial, utilizar o colostro integral permitindo a ingestão de 5 a 6 kg de colostro.
Leite
A quantidade de leite a ser fornecida deve ser de 6 litros por dia, ou seja, 3 litros no trato da manhã e 3 litros no trato da tarde. Aos 40 dias de vida da bezerra, o trato pode passar a ser uma vez ao dia, na parte da manhã.
Mamadeiras e baldes são sistemas artificiais para o aleitamento. Estes vasilhames devem receber cuidados em relação à limpeza diária.
Muitos produtores utilizam leite de descarte de vacas com mastite ou em tratamento com antibiótico, o que não é recomendado pois trata-se de um alimento que não apresenta bom valor nutritivo, além de não ter boa qualidade sanitária.
Sucedâneos
Que o leite é o principal alimento e que garante os melhores resultados praticamente todos sabem. Contudo, existem substitutos que podem reduzir os custos nesta fase da alimentação, sem prejudicar o desenvolvimento dos animais.
Sucedâneos são produtos em que os constituintes lácteos são substituídos parcialmente por constituintes de origem animal ou vegetal.
É muito importante deixar esclarecido que nenhum sucedâneo substitui o colostro, que é extremamente importante para promover imunidade aos animais nas primeiras horas de vida.
Conforme o NRC (2001) os sucedâneos lácteos para bezerros devem conter no mínimo 20% de proteína bruta.
Água
Desde o primeiro dia de vida deve ser disponibilizada à vontade para as bezerras água limpa e fresca, durante todo o dia. Há evidências de que ocorre maior consumo de concentrado em animais assim manejados.
É extremamente importante que a água seja fornecida em utensílios limpos e que a bezerra tenha fácil acesso. A troca e a reposição de água deve ser feita diariamente.
Uma maneira prática de garantir a limpeza dos baldes (em caso de aleitamento artificial com balde), é utilizar o mesmo balde de leite para servir a água. Assim, tem-se a certeza de que o vasilhame foi bem higienizado, pois caso contrário nota-se gordura e resíduos de leite na água.
Volumoso
A partir da segunda semana de vida o volumoso deve ser fornecido à vontade. Caso o sistema de criação seja em casinhas, é interessante possuir piquetes com forrageiras de baixo porte, como o Tifton 85 e grama-estrela. Para fornecimento no cocho, recomenda-se feno, capim e por último silagem.
Os volumosos são importantes para o desenvolvimento fisiológico, do tamanho e da musculatura do rúmen.
Até os três meses de idade, o uso de alimentos fermentados, como silagens, não é recomendado, uma vez que o consumo será insuficiente para promover o desenvolvimento do rúmen e o crescimento do animal.
Concentrado
O concentrado (ou ração) é muito importante para o desenvolvimento do rúmen. A partir do terceiro dia de vida deve ser fornecido à vontade até o desaleitamento (desmame). Devem ser utilizados vasilhames limpos e colocados em local de fácil acesso.
Gradativamente o consumo de concentrado irá aumentando. Assim, não adianta fornecer grande quantidade logo na primeira semana de vida. Vale lembrar que a troca e a reposição do alimento deve ser diária.
Quanto ao teor de proteína bruta (PB), são recomendados concentrados com 18 a 22% de PB.
Utilize concentrados específicos para bezerras. É muito importante verificar se não há ureia na composição do mesmo, pois pode ser fatal.
Concentrados formulados a partir de grãos que passaram por tratamento térmico e/ou valor e em pellets aumentam a digestibilidade e estimulam o consumo precoce.
Desaleitamento ou desmame
O aconselhado é que os animais sejam desmamados aos 60 dias de idade e com o dobro do peso ao nascimento. Portanto, pode ocorrer mais cedo caso o volume de leite oferecido seja maior ou mais tarde caso haja restrição alimentar. Assim, se uma bezerra nasceu com 33 kg de peso corporal, quando a mesma atingir 66 kg estará pronta para ser desmamada.
É muito importante que no momento do desmame a bezerra esteja consumindo entre 1,0 a 1,5 kg de ração por dia.
Após o desmame é recomendado que as bezerras fiquem em bezerreiros por pelo menos dez dias, antes de serem remanejadas para os piquetes. Assim, perderão o hábito da dieta líquida com menos estresse e será possível avaliar como reagirão ao desmame.
Ao serem transferidas para os piquetes, com no máximo 10 animais (para serem melhor observadas), as bezerras devem continuar consumindo o mesmo concentrado fornecido no bezerreiro.
Ganho de peso médio diário
Pese a bezerra ao nascer e no desaleitamento ou desmama. Calcule o ganho de peso médio diário.
Cálculo do ganho de peso médio diário (GPMD)
GPMD (kg/dia) = (peso ao desaleitamento – peso ao nascimento) ÷ número de dias entre o desaleitamento e o nascimento.
Observação: O ganho de peso médio diário deve ser superior a 0,350 kg por dia.
Anote, na ficha individual da bezerra, os pesos e quaisquer problemas ocorridos com ela.
O sucesso da criação de bezerras pode ser avaliado por meio do monitoramento do peso e sua comparação com a média da raça. Pesar as bezerras permite a comparação da mesma com o padrão da raça ou com animais da mesma raça em grupos contemporâneos, podendo indicar problemas no programa de criação.
Fonte: Sâmila Delprete | Tecnologia no Campo